Microorganismos podem auxiliar no tratamento de doenças mentais

Pode não parecer uma ideia muito agradável, mas alojar bactérias em grande quantidade nos intestinos não é tão ruim como parece. Segundo um novo estudo de cientistas irlandeses, certas bactérias poderiam ajudar a tratar alguns distúrbios psiquiátricos.

O estudo, publicado na revista Biological Society of Psychiatry, revela que a manipulação de psicobióticos pode auxiliar no tratamento de pacientes com depressão, ansiedade e síndrome de fadiga crônica.

O termo “psicobiótico”, cunhado pelo cientista Ted Dinan, define “um organismo vivo que, quando ingerido em quantidades adequadas, produz um benefício para a saúde de pacientes que sofrem de doenças psiquiátricas”.

Estudos demonstram que certas infecções por microorganismos podem provocar perturbações psiquiátricas, como é o caso da sífilis, que pode causar demência.

Usando a lógica reversa, Dinan argumenta que, por meio da manipulação do ecossistema de microrganismos do corpo com compostos semelhantes aos probióticos, seria possível beneficiar pessoas afetadas por essas infecções.

Os testes foram realizados principalmente em ratos e camundongos, e comprovou que o uso de probióticos reduziu significativamente o nível de ansiedade provocada pela separação materna.

Se os próximos testes com pacientes forem favoráveis, será possível desenvolver um produto específico para pacientes que não respondem bem ao tratamento com medicamentos tradicionais.

Vale ressaltar que, por se tratar de probióticos, as restrições regulatórias são muito menores que as dos medicamentos convencionais, e eles seriam disponibilizados em pouco tempo, provavelmente sob o rótulo de “suplementos alimentares”.

Tratamento polêmico

Diferentemente dos psicobióticos, os probióticos proporcionam benefícios que vão além do campo da saúde mental. Você já deve ter visto comerciais sobre os alimentos probióticos e seus benefícios para a saúde, embora os cientistas sejam céticos em relação à sua eficácia.

Para alguns especialistas em nutrição, não existem evidências suficientes que comprovem a relação entre o consumo de probióticos e benefícios reais para a saúde, mas há indícios alentadores que impulsionam novas pesquisas.

Quando uma pessoa toma antibióticos, por exemplo, todas as bactérias (sejam prejudiciais ou benéficas) morrem. E reduzir as bactérias benéficas pode levar a problemas como diarreia, candidíase e infecção urinária. Portanto, consuimir grandes quantidades desses microorganismos restauraria o equilíbrio do metabolismo.

Pesquisas atuais se concentram na biologia molecular e no genoma dos famosos lactobacilos, e em sua função imunológica na prevenção do câncer, diarreia, síndrome do cólon irritável e outras doenças. Apesar das poucas evidências que corroborem esses benefícios, há muito tempo eles estão presentes em iogurtes e outros produtos lácteos.

Já para o especialista em doenças infecciosas Mark Crislip, o ecossistema do corpo é demasiado complexo para que a adição de algumas bactérias surta efeito. “Os supostos benefícios para a saúde dos probióticos costumam ser exagerados”, comenta.

Além disso, as cepas comercializadas são diferentes das bactérias que povoam nossa flora intestinal, e algumas delas nem sequer são necessárias para o o organismo.

Mas não se desespere: estamos sempre consumindo a flora gastrintestinal nos alimentos, bebidas e até no contato com outras pessoas, de modo que substituímos os probióticos constantemente.

Por enquanto, só resta esperar novos testes que comprovem os benefícios dos psicobióticos para a saúde humana, viabilizando seu lançamento comercial.

Fonte: Discovery