Dermatologia vive crise de identidade com a estética
Profissionais creditam a tendência a problemas na formação e aos valores baixos pagos por convênios
Pacientes com doenças de pele têm a impressão de que os dermatologistas, estão cada vez mais se afastando do contato com doenças de verdade
As bolinhas vermelhas que apareceram no corpo da designer Patricia Panza, de 22 anos, foram identificadas primeiro como catapora. Depois, como alergia. Mais tarde, quando veio o diagnóstico correto — de psoríase —, o périplo da paciente por consultórios de dermatologistas estava só começando.
Ao longo dos oito anos em que convive com a doença, já encontrou desde médicos que mostraram desconhecimento sobre o assunto até especialistas que indicaram para seu caso carboxiterapia e bronzeamento artificial, técnicas comumente associadas a tratamentos de beleza.
Assim como ela, muitos pacientes com doenças de pele têm a impressão de que os dermatologistas, ao focarem suas práticas em procedimentos estéticos, estão cada vez mais se afastando do contato com doenças de verdade.
A percepção é comum também entre os próprios profissionais, que creditam a tendência a problemas na formação do dermatologista e aos valores baixos pagos por convênios, o que leva os especialistas a optar pelo ramo mais lucrativo da especialidade: a cosmiatria.
A dermatologista Marcia Ramos e Silva, chefe do Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conta que tem pacientes que, ao final da consulta, dizem estar felizes por finalmente terem encontrado um dermatologista "que entende de doença" e não apenas de beleza.
— A gente lamenta isso porque conhecer dermatologia clínica é imprescindível para fazer uma boa cosmiatria. Como alguém vai saber se pode ou não fazer determinado método cosmético sem conhecer anatomia, fisiopatologia e imunologia da pele?
O professor da disciplina de Dermatologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Silvio Alencar Marques, tem a mesma percepção.
— Não são raros os médicos residentes de muita competência que, aos poucos, vão se envolvendo com uma prática dermatológica que os afasta da dermatologia tradicional e 'perdendo a mão' para diagnosticar e tratar doenças reais.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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